Monday, May 28, 2007

Ele que se comove por tudo e por nada

Bolero do coronel sensível que fez amor em Monsanto

Eu que me comovo
por tudo e por nada
deixei-te parada
na berma da estrada
usei o teu corpo
paguei o teu preço
esqueci o teu nome
limpei-me com o lenço
olhei-te a cintura
de pé no alcatrão
levantei-te as saias
deixei-te no banco
num bosque de faias
de mala na mão
nem sequer falaste
nem sequer beijaste
nem sequer gemeste
quinhentos escudos
foi o que disseste
tinhas quinze anos
dezasseis, dezassete
cheiravas a mato
à sopa dos pobres
a infância sem quarto
a suor a chiclete
saíste do carro
alisando a blusa
espiei da janela
rosto de aguarela
coxa em semifusa
soltei o travão
voltei para casa
de chaves na mão
sobrancelha em asa
disse: fiz serão
ao filho e à mulher
repeti a fruta
acabei a ceia
larguei o talher
estendi-me na cama
de ouvido à escuta
e perna cruzada
que de olhos em chama
só tinha na ideia
teu corpo parado
na berma da estrada
eu que me comovo
por tudo e por nada.

António Lobo Antunes, Letrinhas de Cantigas, Lisboa, Dom Quixote, 2002

Wednesday, May 23, 2007

Eu que me comovo por tudo e por nada #34

O Ipsílon-espada a matar a melga-dragão.

At the life station

One ticket for Womanhood, please.

Um dia hei-de ir longe


Who's the man?


Sunday, May 20, 2007

A febre e o ego

I'm feeling hot.

Sunday, May 13, 2007

Ist unser

As Vidas dos Outros, de Florian Henckel von Donnersmarck

Thursday, May 03, 2007

Da agramaticalidade

Era uma mulher também menina e tinha um corpo substantivo, feminino, singular.