Wednesday, August 31, 2011

Elis e Tom

Há qualquer coisa no facto de alguém nascer no mesmo dia que nós (ainda que em anos diferentes), há qualquer coisa no facto de as pessoas de quem gostamos nascerem e existirem, e de por isso podermos gostar delas (também há qualquer coisa no facto de as pessoas de quem não gostamos nascerem e existirem igualmente, mas isso interessa-me menos), há qualquer coisa no facto de pessoas que nasceram no mesmo dia que nós já terem morrido, em morrerem antes mesmo de sabermos que existiram. Essa qualquer coisa deve ter um nome que eu não sei.


Para mim a Elis Regina nasceu nos dias em que a minha mãe cantava sou caipira pirapora nossa senhora de aparecida e por aí fora por cima do rádio, e então já morrera. Ainda me incomoda que tenha morrido antes de eu nascer, antes de a conhecer, e ainda me comove ter nascido no mesmo dia que ela.


Não sei quando foi a primeira vez que ouvi o Tom Jobim, mas lembro-me da última. Na fila da bilheteira do trem para o Redentor, mãe e filha à minha frente, de olhos dados, cantavam-se o Corcovado. E eu, de pés fincados no Rio, sorri comigo da felicidade escancarada dos outros e da minha, num sorriso tão discreto como o rabo do gato escondido.