Wednesday, November 30, 2005
Tuesday, November 29, 2005
Monday, November 28, 2005
i'd rather dance with you than talk with you*
tango, is, ere, tetigi, tactum, v. tr. 1. tocar em. 2. tocar na comida, saborear, comer. 3. pegar em, furtar, roubar. 4. atingir (um sítio), chegar a. 5. tocar batendo, bater, ferir. 6. (sent. moral) fazer impressão em, impressionar, comover. 7. tratar de um assunto, tocar (num assunto), falar de.
*kings of convenience
Sunday, November 27, 2005
Saturday, November 26, 2005
a metamorfose #2
e tornou a perguntar, em que momento morreu o bicho-da-seda depois de se ter fechado no casulo e posto a tranca à porta, como foi possível ter nascido a vida de uma da morte da outra, a vida da borboleta da morte da lagarta, e serem o mesmo diferentemente, ou não morreu o bicho-da-seda porque está vivo na borboleta. o aprendiz de filósofo respondeu, o bicho-da-seda não morreu, a borboleta é que morrerá, depois de desovar. já o sabia eu antes que tu tivesses nascido, disse o espírito que paira sobre as águas do aquário, o bicho-da-seda não morreu, dentro do casulo não ficou nenhum cadáver depois de a borboleta ter saído, tu o disseste, um nasceu da morte do outro, chama-se metamorfose, toda a gente sabe de que se trata, disse condescendente o aprendiz de filósofo, aí está uma palavra que soa bem, cheia de promessas e certezas, dizes metamorfose e segues adiante, parece que não vês que as palavras são rótulos que se pegam às cousas, não são as cousas, nunca saberás como são as cousas, nem sequer que nomes são na realidade os seus, porque os nomes que lhes deste não são mais do que isso, os nomes que lhes deste.
josé saramago, as intermitências da morte, lisboa, caminho, 2005
Friday, November 25, 2005
Thursday, November 24, 2005
Wednesday, November 23, 2005
Tuesday, November 22, 2005
as linhas com que me coso #5
quem sabe que leituras precoces são bíblia de atitudes, que fazem almas e portanto destinos muito físicos?
maria velho da costa, missa in albis, lisboa, dom quixote, 1988, lida aqui.
leitura precoce
um rei, desejando aquilatar o amor de suas filhas, pediu-lhes que o expressassem.
a mais velha falou primeiro e disse, eu quero tanto ao meu pai como o dia quer ao sol.
o rei ouviu e gostou. a segunda afirmou, eu quero tanto ao meu pai como os prados querem à chuva.
o rei ouviu e também gostou. e a mais nova disse, eu quero tanto ao meu pai como a comida quer o sal.
o rei ouviu e não gostou. de castigo mandou-a para as cozinhas. muito triste, a princesa chorou, chorou, até que a velha cozinheira foi em seu consolo: de hoje em diante não se põe sal na comida do rei.
e assim se fez. dia após dia o rei ia perdendo o gosto pela mesa e até pela vida. chamou então as filhas e disse-lhes, estou doente. sei que vou morrer. perdi a alegria, nem a comida me sabe bem.
foi então que a princesa castigada explicou, meu pai, a causa dessa tristeza é a falta do sal que nunca mais se pôs na sua comida. e, para que saiba que assim é, vou-lhe preparar uma refeição com o sal que lhe é devido.
à mesa, diante daqueles manjares, o rei comeu, comeu, riu e comeu e riu outra vez, como já não fazia havia uns tempos. então compreendeu o sentido da frase que a filha mais nova lhe dissera. abraçou-a e pediu-lhe perdão por castigo tão injusto.
a mais velha falou primeiro e disse, eu quero tanto ao meu pai como o dia quer ao sol.
o rei ouviu e gostou. a segunda afirmou, eu quero tanto ao meu pai como os prados querem à chuva.
o rei ouviu e também gostou. e a mais nova disse, eu quero tanto ao meu pai como a comida quer o sal.
o rei ouviu e não gostou. de castigo mandou-a para as cozinhas. muito triste, a princesa chorou, chorou, até que a velha cozinheira foi em seu consolo: de hoje em diante não se põe sal na comida do rei.
e assim se fez. dia após dia o rei ia perdendo o gosto pela mesa e até pela vida. chamou então as filhas e disse-lhes, estou doente. sei que vou morrer. perdi a alegria, nem a comida me sabe bem.
foi então que a princesa castigada explicou, meu pai, a causa dessa tristeza é a falta do sal que nunca mais se pôs na sua comida. e, para que saiba que assim é, vou-lhe preparar uma refeição com o sal que lhe é devido.
à mesa, diante daqueles manjares, o rei comeu, comeu, riu e comeu e riu outra vez, como já não fazia havia uns tempos. então compreendeu o sentido da frase que a filha mais nova lhe dissera. abraçou-a e pediu-lhe perdão por castigo tão injusto.
Monday, November 21, 2005
Sunday, November 20, 2005
greetings from michigan, the great lake state
«lake michigan», de harry callahan, 1950
«he was found in a milk crate on the doorstep of mr. and mrs. stevens, in detroit, mi, on canada day, july 1, 1975. he was wrapped in cellophane, and tagged on the wrist with the mysterious note: "i love you." they named him sufjan stevens, after abu sufjan muhammad, the great armenian sufi warrior who slew ten thousand dragons to save the fairy princess.»
long time, no surprises
(pergunta raramente tolerável) - o que tens feito?
- ó, ando distraída comigo.
- sabes que isso tem um nome...
- sim, egocentrismo.
- tu nunca me desiludiste.
- ó, ando distraída comigo.
- sabes que isso tem um nome...
- sim, egocentrismo.
- tu nunca me desiludiste.
elizabethtown, lisboa, portugal
avenida praia da vitória, à praça duque de saldanha, 1.º andar com proporções de monumento, sala 1.
lapsus digitorum
tinha tão pouca autoconfiança que sempre que a escrevia usava um hífen entre si própria e ela.
Friday, November 18, 2005
Thursday, November 17, 2005
pressa franciscana
(às nove horas matutinas)
- preciso de roma, pavia, babel e atlântida. até à hora de almoço.
Tuesday, November 15, 2005
Monday, November 14, 2005
dia da lua
os sábados passam depressa de mais. o domingo é um tiro em câmara lenta. a segunda-feira mata com saudades. às segundas-feiras, acordo mais cedo do que apetece, apresso-me como o trânsito permite, ignoro sonolentamente a tv no metro. às segundas-feiras, o dia brilha cedo no olhar, os bons-dias são mais verosímeis. às segundas-feiras, nenhum patrão tem razão, o tempo passa a correr e na hora de almoço há conversa de fim-de-semana. às segundas-feiras, a hora de almoço devia ter sessenta+dez minutos que sobrassem para um cigarro fumado ao sol e ao frio. às segundas-feiras o trabalho é do tamanho de uma semana e acredito que uma semana chega para o fazer todo e bem. às segundas-feiras os dvds deviam ser mais baratos. às segundas-feiras sorrio de amanhã ser terça, quase quarta-feira.
as linhas com que me coso #4
ouve, merda, gosto de ti. gosto da tonalidade dos teus olhos e das tuas mãos nos meus ombros quando fazemos amor, das pernas que se enrolam com força nas minhas e me atam, me prendem, me imobilizam, me impedem de sacudir as ancas, em avanços e recuos, à medida que me beliscas, e me mordes, e me insultas, e acabas por morrer como um bicho pequeno, de súbito inocente, indefeso, sem rugas, numa cascatazinha de gemidos magoados, de cara transtornada como se fosses chorar. gosto de ser, por segundos, mais velho do que tu quando te dou prazer, quando obedeces, numa aceitação humilde, ao ritmo do meu púbis, quando os meus músculos inesperadamente se distendem e te deposito na vagina dois centímetros cúbicos de paixão. gosto de me abraçar a ti, depois, de bochecha no teu peito (medes mais três centímetros do que eu, o que me leva sempre a procurar, nas ruas, o lado mais alto dos passeios), e saber que enquanto tomares conta de mim a minha vida caminhará, de acordo com imprevistos e caprichos que me escapam, de uma forma empenada mas segura.
antónio lobo antunes, auto dos danados, lisboa, dom quixote, 1986
análise sintáctica
fernando pessoa foi baptizado na igreja dos mártires.
fernando pessoa - sujeito poético
foi baptizado - pretérito perfeito, voz passivo-religiosa
na igreja dos mártires - complemento circunstancial de lugar onde às vezes me sento na última fila de uma aula em cuja disciplina não estou inscrita.
auto-retrato #11
quando o devendra canta «i heard somebody say that the war ended today», eu canto quase sempre e nunca de propósito «i heard somebody say that the world ended today».
apocalíptica
Thursday, November 10, 2005
dor de cabeça #2
5-2-1932
doem-me a cabeça e o universo. as dores físicas, mais nitidamente dores que as morais, desenvolvem, por um reflexo no espírito, tragédias incontidas nelas. trazem uma impaciência de tudo que, como é de tudo, não exclui nenhuma das estrelas.
bernardo soares, desassossegado.
Wednesday, November 09, 2005
Tuesday, November 08, 2005
dúvida na manhã radiofónica
será que se, fora do horário laboral, alguém perguntar as horas aos senhores-relógio da tsf, eles informam «são onze e quarenta e seis, menos uma hora nos açores»?
eu tenho medo #1
de começar uma série chamada «eu tenho medo» e depois ter um blogue que se escreve sozinho.
Monday, November 07, 2005
Sunday, November 06, 2005
(alguns) dos golos do benfica
discordo muito dos que dizem que o benfica só marca em lances de bola parada. a bola não está parada. está a caminho das redes da baliza.
cigarros e pensamentos nocturnos
não sou nada.
nunca serei nada.
não posso querer ser nada.
à parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
excerto de «tabacaria», de álvaro de campos
nunca serei nada.
não posso querer ser nada.
à parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
excerto de «tabacaria», de álvaro de campos