Saturday, April 29, 2006
Tuesday, April 25, 2006
74 em 06
(acabou o tempo da revolução dos poetas. não me digam que vamos construir uma república de medíocres ─ sem o tamanho grandioso que deveria ter. merda!)
josé gomes ferreira, poeta militante (lisboa, dom quixote, 1998, 3.º vol., p. 326) pós-revolucionário
Wednesday, April 19, 2006
Tuesday, April 18, 2006
porquê? não sei.
não é o ter lido trezentas e setenta e oito páginas e não ter percebido o título do romance.
não são os naperons sobre a mobília impoluta, as jóias da família profana nos dedos e no armário da sala em que mulheres adoram a loiça que guardam ─ vou chamar-lhe altar ─, as árvores sempre as mesmas do outro lado da rua, os ecos das gerações ─ patentes ─ de ontem nos sustos das folhas cadentes, a distância mortífera do sexto andar esquerdo à calçada, o vizinho na janela.
não os almoços de que é arredondada a barriga dele, as mesas sobrepostas de vidro ou vidro mais cristalino, limoges ou pratos do dia e o senhor de jantar às sete e meia, bigode e espuma de super bock, a rotina-tradição.
não as histórias que ele inventa para o anel que traz no dedo ou se o usa quando escreve e o arrasta e com ele sublinha o papel, correndo riscos que a folha, branca, não tem.
não as histórias que ele inventa para o anel que traz no dedo ou se o usa quando escreve e o arrasta e com ele sublinha o papel, correndo riscos que a folha, branca, não tem.
é mais do que eu ─ sem filhos nem cão para passear, sem antepassados sobrestimáveis, só longos hipogeus de memórias pisadas, recalcadas, ébria de leite com chocolate, a pousar o livro ao lado para rascunhar, certa de que leio melhor do que me demoro em posts ─ sei dizer.
Monday, April 17, 2006
Friday, April 14, 2006
Tuesday, April 11, 2006
diz-me onde trabalhas, dir-te-ei quem és
sujo as mãos e corto-me no produto bruto, que as folhas são papéis às vezes difíceis de interpretar e não disfarçam o perigo das palavras. semicerro os olhos de astigmatismo e atenção, e numa sismocaligrafia escrevo dúvidas pequenas e dúvidas-mor, porque omniscientes só os narradores. e um dia a pedra da calçada feita - mais - preciosa.
um dia o lobo antunes elogia a empresa em que trabalho, um dia há posts-holofote, um dia o calhau polido é assunto de e-mails, um dia há mais arte nas ruas, nos cafés, nas casas e nas casas de banho.
e há dias em que as semanas têm quarenta horas úteis, faz algum sentido que eu passe mais tempo a trabalhar do que a dormir e agradeço a bênção de santo ofício, padroeiro de qualquer arte manual ou mecânica.
Monday, April 10, 2006
,
não se vêem vírgulas entre as casas, o que torna tão difícil a sua leitura e as ruas tão cansativas de percorrer.
para a m.
henri michaux, antologia, trad. m. vale de gato, lisboa, relógio d'água, 1999
Sunday, April 09, 2006
Friday, April 07, 2006
u.
ele gostava de estudar as penas, os bicos e os cantos dos pássaros acitadinos, das enxadas pesadas e dos pequenos tractores de unhas compridas a remexer nas gavetas da terra, de comer nêsperas nos braços da árvore-mãe e provar melão em pequenas fatias cujo nome aparece nas palavras cruzadas e é fácil de esquecer, de caminhar por corredores de eucaliptos e de sinestesias. urbano era um rapaz do campo.
Thursday, April 06, 2006
Wednesday, April 05, 2006
Tuesday, April 04, 2006
não esperes que te ligue
deixa que te surpreenda. não esperes. vais olhar para o telemóvel todas as vezes em que eu não te ligar? deixa-me ligar quando estiveres no metro, deixar-te uma mensagem, de voz incomodada por falar no vazio, como tantas - quantas - vezes quando atendes. talvez nem desças ao metro, e vás pelo sol a pôr-se, que é o sol a tirar-se, à espera.
não esperes que te ligue, eu não vou ligar-te.
vais guardar o telemóvel no bolso das calças de tecido, mais largas e indiscretas, à espera de me sentir ligar-te. um bicho pequeno calado quieto aninhado no teu fim de perna. vão passar horas e eu não vou ligar-te. o visor do telemóvel na mesa do trabalho a cronometrar-te as horas e os minutos de uma espera que te desaconselhei. se acreditares que não vou ligar, hás-de esperar que pense em ti enquanto não te ligo?
há nove, catorze, dezoito, dezanove horas que é hoje e não te ligo.
talvez te ligue só umas palavras. talvez não diga muito, talvez não diga muito frio, talvez a chamada caia estalactite e tu tremas um bocadinho com o que não disse.