Isto foi sábado. Sabemos, com que prenúncio, que sábado vem antes de domingo. Mas este post não tem a ver com os deuses nem com os dias da semana. Este – como os outros por aqui, porque os passos são mais curtos que as pernas e os caminhos de saída distantes – vai pouco fora de mim.
Começa com um café e um postal na esplanada frente ao sol e passa pelos corredores do minimercado, pela caixa registadora e faz uma paragem colorida na frutaria. É assim que, aos vinte e seis anos, depois de ligar o shuffle, aumento o volume do fogão para cozinhar caldo verde e planos para o resto do dia.
Um filme e a conversa em dia na montra do café. Regresso rápida a casa para banho e mudança de roupa, ainda a hesitar sobre o jantar de aniversário com dimensões de copo-d’água (apesar do tinto da casa). Vou, como alguém que não quer uma noite de tédio e televisão e, porque é sábado de Carnaval, se mascara de facilmente sociável. Há dezenas de pessoas e à maior parte não dirijo palavra ou sorriso. Comunico desconfiada com quem me diz «tal é a carência» por causa do chocolate que levo na mala e logo se redime com «eu também devia trazer».
Peço um prato cujo sabor desconheço e, porque a fome é cega e, entretanto, insensível ao cheiro, como pão d’alho.
Depois do futebol, temos o VH1 como vj e, intermitentemente, os autores de sonoras declarações de amor a tal cantor e a bandas inteiras suportam mal a pessoa sentada a dois lugares de distância.
Na dança das cadeiras, sento-me ao lado deste e daquela, levando copo e cigarro. Reconheço algumas pessoas e conheço outras. Um álbum novo que não sai da cabeça ou do leitor de mp3, um livro oferecido, o filme que x fez ajudado por y. Conversas pessoais de superfície. De «My body is a cage» a Sylvia Plath, de realizadores russos e galinhas ao ombro a Sarah Kane, que não, não sei quem publicou, os assuntos fazem-se. Depois movemo-nos em grupos de interesse, cirandamos na porta do bar de copo na mão como se fosse Verão ou qualquer noite de Bairro e há um bzzz de enxame com apetite de pólen.
Discutimos ninharias, «o meu segundo nome é pior do que o teu», e dizemos coisas imperativas, conscientes dos dois sentidos de uma calçada, das pessoas que temos como nossas, da solidão, da ineficácia dos seus antídotos, do preço do álcool e dos domingos. Da conversa de la petite mort à faixa 9 do Funeral vai a Calçada do Combro e uns passos de dança.
No táxi de regresso a casa faço cara de «são cinco da manhã», num instante, apago a luz da mesa-de-cabeceira num sopro de cansaço e sono e quando abro os olhos é aquele dia.
*Bloc Party