e a prosa?
ramon berenguer de cabanellas y puigmal já era célebre, quando, por fusão de duas turmas, passou a ser meu colega no 6.º ano dos liceus. as suas calmas e sonhadoras extravagâncias, o seu ar de senhor de idade, o mistério adulto de que rodeava a sua figura pequena e atlética, a sua profunda convicção de que, desde o século xii ou xiii, a espanha devia à sua família o condado de barcelona, as perguntas absurdas, feitas com o ar mais convicto e ingénuo do mundo, com que ele era o terror dos professores inseguros, e o seu famoso sistema filosófico que tudo explicava e o dispensava, «graças ao controle das energias do cérebro», de estudar as lições (salvo em casos de última emergência), tudo isto não fazia dele um ídolo nem um chefe, mas um ente respeitadíssimo, apesar da ironia com que todos o apontavam.
jorge de sena, sinais de fogo, porto, asa, 1997
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