Caixa
Uma caixa é um guarda-mundo que não se quer masculino e aumentativo. Cabe lá dentro o que se imaginar e quiser e conseguir meter.
As mais feias escondem-se - uma da Nike, made in elsewhere by who knows which child, com os recibos verdes do trabalho sujo do ano transacto. As de transporte de livros, a que falta o rótulo «frágil», aguardam a próxima mudança. Umas bonitas, de perfumes, transbordam de postais sem destinatário eleito ou elegível.
Tive caixas de sapatos quando os pés foram meninos, e eram condomínios privados para bichos-da-seda.
E assim parece que as caixas de sapatos só guardam sapatos nas sapatarias, mas debaixo da secretária arrumei uma caixa de sapatos. Dentro tem 117 euros. Mas é uma caixa de sapatos verdadeira, porque dentro tem sapatos.
São pretos, têm confetti sobre os dedos e um meio salto (quem precisa deles altos quando tem centímetros?). Calcei-os na loja, o par quase octogenário, dei uns passos para a frente e outros tantos para trás. A rapariga da loja disse «dão-te um ar de menina-mulher» depois de eu pensar «vou levá-los» e os trazer.
[Not to be continued...]
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