não esperes que te ligue
deixa que te surpreenda. não esperes. vais olhar para o telemóvel todas as vezes em que eu não te ligar? deixa-me ligar quando estiveres no metro, deixar-te uma mensagem, de voz incomodada por falar no vazio, como tantas - quantas - vezes quando atendes. talvez nem desças ao metro, e vás pelo sol a pôr-se, que é o sol a tirar-se, à espera.
não esperes que te ligue, eu não vou ligar-te.
vais guardar o telemóvel no bolso das calças de tecido, mais largas e indiscretas, à espera de me sentir ligar-te. um bicho pequeno calado quieto aninhado no teu fim de perna. vão passar horas e eu não vou ligar-te. o visor do telemóvel na mesa do trabalho a cronometrar-te as horas e os minutos de uma espera que te desaconselhei. se acreditares que não vou ligar, hás-de esperar que pense em ti enquanto não te ligo?
há nove, catorze, dezoito, dezanove horas que é hoje e não te ligo.
talvez te ligue só umas palavras. talvez não diga muito, talvez não diga muito frio, talvez a chamada caia estalactite e tu tremas um bocadinho com o que não disse.
2 Comments:
tshh.. pseudos!..
eu sou um guardador de rebanhos.
tou à espera que me ligues...
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