Friday, March 23, 2007

Common people*

Aluguei um casulo defronte de uma loja, uma mercearia cuja dona arrisca conversa com um «hoje vai fazer sopa» para a rapariga que leva batatas, cenouras e cebola, mas sei isto porque me contaram e eu acreditei, que eu nunca lá entrei. Por cima, marquises como caixas de fósforos onde se acendem candeeiros e televisões, discussões sobre quem lava a loiça e sorrisos quando o Benfica marca (bairro feliz, de barbearias que são arquivos municipais d’A Bola e apartamentos sem Sportv donde se ouvem os festejos do estádio quando jogamos em casa). Na janela da cozinha, dedilho as cordas da roupa, demoro-me a estendê-la, com gestos de equilibrista e molas combinadas, para que peça nenhuma caia no quintal onde um Simão na marca de grande penalidade atira para golo a um Ricardo entre os dois vasos da baliza, enquanto o pássaro de um vizinho canta assobios de trolha.
*Pulp