eu que me comovo por tudo e por nada #26
fruit stand, de lisa whiteman, 2003
quando era miúda a sério, ia com a minha avó às compras. a loja era pequena e mal iluminada, cheirava a bacalhau, queijos e chouriços. ao balcão recebia-nos a menina maria, que no quase escuro somava os centímetros que eu crescera desde a última visita. a menina maria tinha cabelo muito branco e vestia luto dos sapatos até à gola desde antes de eu nascer. fazia as contas em papel manteiga com um lápis desafiado e subtraía um chocolate ao total.
lá fora, à entrada e à saída, havia fruta da época, madura, doce, permitida. eu gostava de ver uma maçã desarrumada no caixote das laranjas e os figos alinhados como um batalhão.
as bancas na porta das mercearias dão-me cor de infância aos anos maiores e cor de bairro às ruas da cidade, contrariam o anonimato. os morangos, meloas, tangerinas ou nêsperas do senhor antónio ou da dona mercês, assim expostos aos dedos gulosos, cheiram-me à confiança entre os habitantes dos lugares pequenos.
as bancas na porta das mercearias dão-me cor de infância aos anos maiores e cor de bairro às ruas da cidade, contrariam o anonimato. os morangos, meloas, tangerinas ou nêsperas do senhor antónio ou da dona mercês, assim expostos aos dedos gulosos, cheiram-me à confiança entre os habitantes dos lugares pequenos.
1 Comments:
E eu que também me comovo por tudo e por nada vi na menina Maria a minha avó, de cabelo branco e vestida integralmente de luto atrás do balcão da sua loja!
Tenho saudades de sentir o cheiro daquele local onde cresci!
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