Friday, March 31, 2006
uma crónica lida entre o oriente e a alameda e disfarcei um bocejo de leão - muito sono e nenhum tédio. a olhar para as janelas mais altas da avenida, a repensar a crónica e que a galinha da vizinha parece e nunca é maior do que a minha. a minha galinha é que pode crescer.
um almoço como que de trabalho, tão trabalhoso que folheei com interesse uma revista de dezembro e voltei a ontem. queria o restaurante mais barulhento, os empregados de mesa familiares (um do outro), a parede de vidro a ranger a cada batida de porta, as mãos mais procuradas e o olhar-recompensa, queria era escrever sem parecer uma lista de compras, e afinal energúmeno sou eu (não esse, o outro sentido).
um encontro imprevisto - digo olá, digo boa tarde? - e um sorriso do tamanho da praça de londres a contar-me que defendeu muito bem a tese de doutoramento. olá.
uma determinação na ponte para casa, mais suportável com o sol de fim de tarde, decidi que hoje havia de postar sem falar de mim.
Thursday, March 30, 2006
Monday, March 27, 2006
Friday, March 24, 2006
Tuesday, March 21, 2006
e a prosa?
ramon berenguer de cabanellas y puigmal já era célebre, quando, por fusão de duas turmas, passou a ser meu colega no 6.º ano dos liceus. as suas calmas e sonhadoras extravagâncias, o seu ar de senhor de idade, o mistério adulto de que rodeava a sua figura pequena e atlética, a sua profunda convicção de que, desde o século xii ou xiii, a espanha devia à sua família o condado de barcelona, as perguntas absurdas, feitas com o ar mais convicto e ingénuo do mundo, com que ele era o terror dos professores inseguros, e o seu famoso sistema filosófico que tudo explicava e o dispensava, «graças ao controle das energias do cérebro», de estudar as lições (salvo em casos de última emergência), tudo isto não fazia dele um ídolo nem um chefe, mas um ente respeitadíssimo, apesar da ironia com que todos o apontavam.
jorge de sena, sinais de fogo, porto, asa, 1997
Monday, March 20, 2006
Sunday, March 19, 2006
nos quartos
das freiras
não há espelhos
nas igrejas
não há
espelhos
os espelhos
são o diabo
adília lopes, le vitrail la nuit . a árvore cortada, lisboa, & etc, 2006
o diabo somos nós.
das freiras
não há espelhos
nas igrejas
não há
espelhos
os espelhos
são o diabo
adília lopes, le vitrail la nuit . a árvore cortada, lisboa, & etc, 2006
o diabo somos nós.
Friday, March 17, 2006
Thursday, March 16, 2006
Wednesday, March 15, 2006
e o brinde vai para...
li na bola online a notícia do adversário nos quartos-de-final da liga dos campeões. que «saiu a fava» ao benfica. mas o que nos saiu foi o brinde.
Monday, March 13, 2006
Friday, March 10, 2006
um café e um cinzeiro, por favor
o primeiro café, rápido, e um «bomdjia». o meio pacote de açúcar, um pau-de-toque de canela. e os cafés-convívio e os cigarros demorados. o princípio do cigarro e o resto da conversa. cafés com leite, com natas, os puros. cafés inteiros, cheios de silêncio, de conversas ao lado, alheias. o barulho das colheres a mexerem no sentido dos ponteiros do relógio e das que mexem sem sentido, a música cá dentro, os risos viscerais dos fantasmas inimigos de infância. a pessoa à frente, a pessoa ao lado numa mesa redonda, o debate da vida quotidiana, íntima. a conversa difícil, a fluida, liquidescente. as palavras que se inventam, as que não se dizem, as fumadas, incandescentes, as bruxuleantes, enevoadas, já apagadas.
não é o café. não é só o café. é o modo como o café. o café que é um quarto de vigor gordo ou um ucal. o café na esquina, a mesa no canto, onde perguntam «menina, o que é que vai ser?»
e eu não sei o que quero ser.