Monday, August 28, 2006

Eu que me comovo por tudo e por nada #29

Descobri um recorte do DN de 21 de Janeiro de 2002 que diz assim: «Livro da Dança é o primeiro livro de Gonçalo M. Tavares que acaba de ser editado pela Assírio & Alvim.»

Tuesday, August 22, 2006

Tisana para a insónia

25
Sempre considerei que as relações entre as pessoas são muito difíceis. Um dia porém depois de muito ter meditado na humana dificuldade ia pela rua fora quando de repente vejo um amigo. Dirijo-me a ele e digo com a maior animação você podia fazer o favor de me dar 25 tijolos para eu construir uma parede aqui do lado esquerdo então ele olha para mim e diz faz-me bem que alguém me estenda uma mão fresca mas se me agarra no braço isso já é penoso e inconcebível para mim li isto nem qualquer parte.
ana hatherly, 463 tisanas, Lisboa, Quimera, 2006

Post quase desportivo

De véspera um leve desejo levanta suspeita. O presente promete realidade. Duas horas antes do acontecimento ainda não sei se o vai ser. Hesitação, vou-não vou, vou-não sei se vá, vou-quero ir, vou. 18h20 e fora do pijama para debaixo do chuveiro. Visto a primeira T-shirt da gaveta e é verde. Fujo do espelho e da cara de poucos (tão preciosos) amigos, isto são lá horas de sair de casa, mas isto são lá dias de ficar em casa. Até na silly season se fazem coisas certas ou presumivelmente acertadas. Pus-me a caminho com um «vou àquele estádio». À chegada, muitos automóveis mal estacionados onde há lugar e não parquímetro, apesar de já serem oito da noite. À porta, pessoas paradas à procura de pessoas em movimento. Estou sozinha e nervosa, ouvir o meu nome assusta-me. Mas o meu nome é outro post. Vou quase tarde, passo rapidamente pela entrada desimpedida e controlada. Primeiro passa-se ordeiramente. Depois presto-me a um exame físico. As mãos procuram-me os jeans, os bolsos de trás, as pernas por aí abaixo. Tenho uns belos bolsos vazios. Não, não me importo de mostrar a mala. Se a senhora do colete fluorescente soubesse como um livro pode afectar uma pessoa, não me teria deixado entrar com ele. Exame final: leitura magnética, green card means go. Escada acima, chego a tempo, há eventos que se atrasam e um século demora a chegar. Num texto dramático haveria uma didascália com a voz verde e gritante num apelo a «todo o estádio a cantar». Aquela música não é um hino, é o «Wrong’em Boyo» dos Clash. Mesmo que na outra ponta da 2.ª Circular, mesmo que o pronome possessivo plural antes do nome do clube me provoque comichão, mesmo que eu não seja uma dos milhares a bater palmas, um estádio cheio é uma emoção daquelas de deixar a pele como um mar nervoso, os pêlos dos braços como dunas ao vento e a minha retórica reduzida a comparações de quinta categoria. Em volta do campo, circulares como anéis, há várias camadas coloridas de vozes vivas e línguas soltas (o árbitro tem uma família que é um prazer) e olhares concentrados sobre o pequeno e promissor planeta. Noventa minutos de bolas legitimamente roubadas, passes ameaçadores, pontapés de e para fora da baliza, pontapés livres de perigo, substituições, cartão vermelho, três minutos finais que não resolvem um empate a zero. Só eu sei porque não fiquei em casa.

Monday, August 21, 2006

Instead of dancing alone, I should be dancing with you*

Danae, de Gustav Klimt, 1907-1908
*She Wants Revenge

Thursday, August 17, 2006

Pesadelo de uma noite de Verão

Sonhar com voos cancelados, QuarkXPress, e ringue-ringue (ler com toque irritante) de telefone em repeat ou não chegar a adormecer.

insomnia iv

Um carneiro a ler Alberto Caeiro, dois carneiros...

Monday, August 14, 2006

Dia não

Hoje não senti a tentação de me sentar na esplanada sul-americana no canto da praça mais londrina de Lisboa, entre senhores vestidos de jornais de negócios bem vincados, perto de onde dormiram senhores embrulhados em jornais de dias (mal) passados. Não cronometrei os minutos até ao trabalho pelo relógio-termómetro, não me arrepiei com o prenúncio de dia quente nem passei sinais vermelhos. Não almocei milimetricamente entre as 13h e as 14h e não contei os últimos minutos até às 18h. Hoje não fui trabalhar.

Hoje não fui trabalhar

Hoje acordei de um sonho antes das 9h e preparei-me um lento e grande-pequeno-almoço. Hoje fui aos Correios e tinha quarenta pessoas (23 idosos à espera da reforma e cada um conhecia alguém mais velho do que o conhecido do anterior — ah, mas a Perpétua já tinha 108 anos ­—, 4 homens que se apressaram para o edifício das Finanças porque «depois de seis dias as cartas registadas são devolvidas», 2 homens pouco autónomos acompanhados pelas mães, 6 pais e filhos com mais vontade de se sentarem do que bancos disponíveis, 2 pares de namorados distraídos da contagem, 2 estrangeiros e 1 mulher de jeans com penugem na bainha e no cós) e cinquenta e três minutos para observação à minha frente. Hoje estendi a roupa ao sol. Hoje saí para comprar um biquíni. Hoje comprei uma saia que embrulharam em papel vegetal, um pacote de envelopes e metade de um biquíni. Hoje joguei Mikado com os fósforos que caíram da caixa. Hoje fiz soufflé de queijo e zapping.